Valente resolveu
declarar uma guerra bem pessoal.
Decidiu se libertar do Medo que o aprisionava,
ou melhor, o paralisava.
De medo em medo, ultimamente, vinha se
considerando um covarde.
Em muitas ocasiões,
o Medo, com suas mil
caras, o havia derrotado. Real
ou imaginário, conseguiu desviá-lo do caminho
uma dezena de vezes, obrigando-o a ceder e abrir
mão de coisas essenciais.
Como
seria possível?
Tinha que ser o maior poder do mundo. Talvez
algum cientista, inventor de uma droga para
lavagens cerebrais. Quem sabe um louco com poderes
mágicos a influenciar mentes, dominar vontades
alheias, apagar os sonhos. Ou, até mesmo, um
dentista sádico...
O
maior sonho do guerreiro passou a ser o de matar
esse Medo... Única forma de salvar a Humanidade,
a individualidade, a mortalidade, a sensibilidade,
a nacionalidade e sabe-se lá mais o quê... Até
mesmo sua sanidade.
Mais
Valente do que nunca, decidiu:
- Só preciso de um aliado: a Coragem
- minha eterna parceira nas lutas com Deus e
o Diabo.
Assim,
cenas mais tarde, Valente e Coragem
partem para a grande aventura: a de acabar
com o Medo.
Coragem
ficou feliz com o convite. Tendo
Valente ao lado, qualquer luta ia ser fácil.
Podia unir o útil ao agradável.
Repartir a excitação que precede uma nova conquista
com o bravo Valente, não era para qualquer uma.
Coragem,
com um olhar carinhoso, disse a
Valente:
- Pensei ter matado o Medo, mas, ele
sempre
volta. Parece ser a força cósmica, a energia
que nos explode em adrenalinas, aumentando
nosso tamanho ao ridículo.
Depois
de uma pausa, Coragem, ruborizada,
continuou:
- Concordo com você, Valente, precisamos
derrotá-lo, só então, poderemos viver em paz.
O mundo deveria estar ao nosso lado na
guerra... E adeus às armas, às brigas, ao
egoísmo, ao ódio, ao espelho e às mentiras.
Durante muitos anos
de suas vidas, passaram a perseguir o Medo.
Não tinha jeito. O Medo aparecia sempre que
um dos dois se via sozinho. Juntos, Valente
e Coragem nem se lembravam do Medo.
Também descobriram que o Medo de
cada um era diferente.
Para Valente, apenas uma sombra que o
seguia. Não devia ser muito forte, mas, sem
dúvida, traiçoeira. Aparecia durante
o dia e se ria dele.
Já o Medo de Coragem era grande,
desmedidamente forte e alto. Mais alto do
que a maioria. Aparecia à noite e não se escondia.
Pelo contrário, fazia questão de ser visto.
Uma noite, Coragem acordou Valente para
enfrentar o Medo.
- Valente, ele está encostado na parede
ao
lado daquela porta!
Valente encheu os pulmões, pegou um revolver,
um facão e foi desafiar o Medo de
Coragem para um duelo. Não viu
nada.
Coragem,
apavorada, apontava para uma
parede. Valente apenas conseguia enxergar um
quadro pendurado. Até que era bonitinho...
E o Medo onde estava? Será que Coragem estava
sonhando?
Coragem começou a chorar. Valente não
conseguia enfrentar o seu Medo. Talvez, nem
acreditasse nela... Como iria protegê-la?
De repente, detrás da cortina, voou
uma
pequena mariposa. Valente
se arrepiou todo. Passou a tremer de medo.
Tinha horror a insetos, ainda mais
desses voadores.
Coragem teve muita vontade de rir. Mas,
lembrou-se de que até Valente tem sua hora
de folga. Então, séria, para aliviar a ansiedade
do amigo, pegou sua sombrinha e tratou de
matar aquela horrível bruxa.
Do
livro ROBÔ DA VIDA e outros Contos.
Copyright© 1993 by Angela Moura
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