Coração não era fácil. Vivia sobressaltado, cheio de
adrenalina. Suas fobias eram as habituais: aquelas passadas de pai para
filho e em conversas de esquina.
Afinal, o povo não vive dizendo
que coração sofre de umas coisas
esquisitas?
Tem a história de um Coração
que se engasgou com o caroço da azeitona. A
daquele que comeu uma feijoada e morreu dormindo
(sorrindo, ainda por cima). O caso de um outro pobre
coitado que morreu assistindo a novela das
oito.
Era demais, Coração não mandava
recado. Cansava e... tchau, tchau. Pensando nisso, Coração resolveu
fazer exercícios e caminhadas, das
maiores que suas pernas podiam suportar.
Naquele domingo, animou-se e
foi andar na praia. Colocou sua roupa
nova azul-carbono para melhorar a
sorte. E lá se foi nosso Coração dar seu passeio
matinal, preocupado em não se cansar
demais.
Fazia tanto calor, que chegou
em casa exausto.
- O sol está de matar! Ah, Meu
Deus, proteja-me sempre dessa palavra! Não quero nem pensar!
Sentindo-se cansado, foi tomar
um banho frio para refrescar a cabeça. Ao
tirar a camisa do peito, viu no espelho seu
corpo todo arroxeado. Entrou em pânico.
- Estou com uma hemorragia ou
algum enfarte fulminante! Não vou escapar dessa!
E rezou. Rezou pouco porque
teve que tomar as providências para o
desenlace. Fez um breve testamento e chamou
a família toda para uma calorosa
despedida. Foi colocado na maca pelos parentes
e levado para o hospital mais
próximo.
Coração mais que disparado,
quase não acreditou ao ouvir o médico
dizendo:
- A pressão do Coração sobe
e desce. Que loucura! Nunca vi coisa
igual!
- É, chegou a minha vez, pensava
ele, ouvindo o médico perguntar:
- Você levou algum tombo para
estar roxo assim? Foi alguma batida?
Coração mal conseguia responder: - Não, doutor. Fiz muito exercício
e peguei sol demais. Não agüentei tanto
esforço. Estou com uma hemorragia interna,
um enfarte do miocárdio ou coisa parecida.
Vou explodir.
- O senhor acha que tenho alguma
chance?
O médico, preocupado, resolveu
dar uma injeção para acalmá-lo. Ao passar
um algodão com álcool no braço
do paciente, o algodão saiu roxinho. O médico
começou a rir e não parava mais.
Coração não entendia nada. Cada
vez mais roxo, não conseguia falar. Os
braços estavam ficando paralisados.
Achando que ia pular pela boca,
pensava:
- Será que esse médico é louco?
Era o que me faltava! Estou morrendo e ele
fazendo piada com a minha desgraça.
Assim, fechou os olhos esperando
o pior.
De repente, ouviu uma voz dura:
- Coração, olhe para mim! Veja
esse algodão da cor da sua camisa.
O diagnóstico do médico foi
simples:
- Vou lhe receitar sombra...
água fresca e, com a maior urgência: um bom
banho.
E Coração desmaiou... roxo de vergonha.
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