Cinefantasy Western II
(Katy Vai À Luta)
Angela Moura
Foi quando o Cinefantasy chegou à cidade, que
Katy pôde perceber o quanto sua vida estava vazia.
Sua atenção era toda voltada para Cometa Kid e,
há muito, deixara de lado seus sonhos e realizações.
Sabia que tinha talento e nome para brilhar.
Aí e assim, tomou a decisão de alforria:
- Katy Star vai à luz dos palcos!
Olhou para trás e lembrou o quanto corria para
chamar a atenção do Kid, que agora era um artista,
sem tempo e disposição para ela.
No dia do grande show não pôde participar.
Tinha tido um mal-estar súbito, oportunista, mas,
pensava alto e com certeza:
- O Kid nem deve ter percebido a minha ausência.
Aliás, era o que vinha acontecendo. Sentia
saudade do tempo em que tinham sua própria
companhia teatral Tête à Tête, e viviam ensaiando
e se amando em cada ato. Mas isso já era longe!
Sabia que se deixara levar pelo próprio
esquecimento - mania de mulher, de pensar mais
no outro, de jogar para frente as próprias vontades.
Não podia culpar ninguém.
Ainda conseguia lembrar de como Cometa olhava
a platéia através dela e como isso a fazia sentir-se
transparente.
- Mulher invisível. Essa era demais!
Não dava para tomar o leite derramado ou chorar,
nem era seu jeito. Tomando leite gelado pelo tempo,
decidiu com o espelho começar a contar para o alto.
Assim, resolveu mudar o visual.
A galera vibrou.
Com a cabeça fria e em alfa, nas aulas de
Tai Chi Chuan perdeu uns quilinhos - diferença
brutal de chutes na balança.
No manequim menor, a saudade apertava muito.
Era grande.
Kid havia partido com a caravana para o
interior levando outras stars, algumas com papéis
secundários, outras sabe-se lá...
Ficou muito emocionada no dia em que recebeu
aquele postal:
- Katinha, estou com muita saudade. Até sonho
contigo. Ontem te vi na minha cama.
?!? Será que ele tinha ficado maluco ou estaria
confundindo tudo?!?
- Quem seria aquela na sua cama?!
Resolveu telefonar para ele.
A voz eletrônica do Kid causou-lhe um choque
no umbigo e a deixou muda uma semana depois que
colocou o fone no gancho e foi cuidar de sua vida.
Gravou seu primeiro disco solo, que anda se
embolando nas paradas.
Depois do choque-soco inglês no estômago
não se cansava de repetir:
- Fica para a próxima, Cometa Kid. Talvez
apareça um meteoro na minha vida. Ou quem sabe
a gente se encontra em alguma outra historinha.
Enquanto isso, curtindo de Star,
vou ficando por aqui!...
Do livro ROBÔ DA VIDA e outros Contos
Copyright© 1993
by Angela Moura
Repasse com os devidos créditos
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