Cinefantasy Western
Campanha Eleitoral Country

 

Angela Moura



Desde que o Cinefantasy Western chegou
à cidade, não se falava em outra coisa.
A TV dava cobertura global ao evento.

Cometa Kid, excitadíssimo com a nova,
resolveu se candidatar ao papel principal e
avisou sua noiva, Katy Star, que ia
virar artista.

Não foi fácil. Deu o maior trabalho. Teve que
entrar na disputa com o Sundance e o Cassidy,
com o Clyde da Bonnie e o mascarado do Zorro.
Mas, no final não deu outra, só Cometa. Os
outros ficaram na cauda.

E assim, da noite para o dia, passou a viver,
com ou sem partido, Scheiz-Rambo-10-008,
herói de todas as campanhas.
A galera vibrava.

Que loucura! Nossa! Vocês precisavam ver!
O Cine ficava lotado. O público assistia pelo
menos a quatro sessões, num só dia, mais ao
horário gratuito. E batiam palmas de pé.

E lá estava ela. Katy Star, em camurças e
franjas, com seu chapéu branco. Sempre na
primeira fila - com aquele sorriso, acenando
e acenando...

Cometa despontava nas colunas e colagens,
nas camisetas e corações das moças.

Katy vibrava com tudo isso. Cometa Kid era
mesmo o máximo! Às vezes, ficava um pouco
irritada com a insistência de algumas mocinhas
para conseguirem um aceno do Kid. Até aí,
tudo bem...

Kid não tinha tempo para nada, nem para
ninguém. O sucesso lhe pesava a cabeça. Era
muito bom e era tanto, que o espetáculo
começava logo de manhã. Já estava dormindo
de chapéu (e bota). Atrasava o relógio para
poder descansar. Até o tiro no alvo teve
que atirar de lado.

Precisava resolver outro problema: Katy Star.
Ela insistia em receber seu autógrafo todo dia.
Era demais. Haja saúde.
 
Assim que terminasse a temporada do Western,
ele ia começar a pensar mais na sua vida, se
prometia Kid. Mas, de manhã cedinho,
começava tudo de novo.

Aquele foi um dia diferente. Era um dia mais
que o especial: o último dia - o último espetáculo.

Alguma coisa estava faltando, Cometa pensava
ou sentia, não sabia bem.

Vieram as palmas seguidas das exclamações.
Foi a Consagração. Na maior euforia, Cometa
Kid se inclinava agradecendo os aplausos e
sorria, extasiado, para o público.

Precisava comemorar e curtir essa grande vitória.
E se imaginou nos braços de sua amada.
Foi só aí que percebeu, na primeira fila, aquela
cadeira. Procurou um chapéu branco. Nada.
Não podia entender. Não conseguia lembrar
desde quando, era bem verdade, mas
aquela cadeira estava vazia.



Do livro ROBÔ DA VIDA e outros Contos
Copyright© 1993 by Angela Moura


Repasse com os devidos créditos








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